quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Restaurante Alaíde do Feijão corre risco de fechar


Artistas, políticos e militantes do Movimento Negro fizeram do restaurante de Alaíde Conceição, um dos mais conhecidos no centro de Salvador. O segredo ela garante que é o tempero e conta que aprendeu com a mãe. Mas o famoso quitute de Alaíde do Feijão, 64 anos, que já faz parte do cenário do Pelourinho, corre risco de fechar.

O restaurante que serve uma das mais famosas e procuradas feijoadas baianas está passando por dificuldades financeiras. “Falta cliente. O povo não está frequentando o Pelourinho. Nem turista está vindo e nem o povo de Salvador”, conta a Alaíde Conceição. Mais conhecida como Alaíde do Feijão, ela relembra da época em que chegou ao Centro Histórico, há 20 anos.

Era o ano de 1993. “O Pelourinho tinha sido revitalizado e o movimento de clientes era forte. Nos últimos dois anos a dificuldade foi crescendo”, detalha.

Dos 60 frequentadores que tinha só no horário do almoço, a procura caiu drasticamente para apenas 10 por dia. Alaíde atribui à evasão as imagens que foram divulgadas do Pelourinho, além da crise financeira em países da Europa e a ausência de uma grade regular de eventos na região. “Acho que essa crise está abalando. Ficam dizendo também que aqui só tem drogados e pedintes. Isso afasta as pessoas”.

Por mês, ela tem que desembolsar cerca de R$ 1.200 só de gastos com o imóvel. Como funcionários, conta com ajuda da própria família para preparar o variado cardápio que inclui ainda rabada, dobradinha, entre outros.

“Está muito difícil. Fizeram até um almoço aqui para me ajudar que teve movimento negro, blocos afros e secretários. A base daqui é a comunidade negra”, ressalta Alaíde.

Apesar das dificuldades, a baiana que aprendeu a cozinhar com a mãe que tinha um tabuleiro próximo ao Elevador Lacerda não deixa a vontade de permanecer no local desaparecer dos seus planos. “Minha esperança é que as pessoas voltem a frequentar o Pelourinho”, diz.

O ex-secretário municipal da Reparação e atual superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos, Ailton Ferreira organizou um dos encontros para incentivar que frequentadores voltem para o restaurante. “Ela é uma empreendedora, mulher, que veio de bairros populares e se instalou no Pelourinho. O restaurante dela é mais do que um ponto de negócio. É ponto de encontro. Referência”, destaca Ailton.



O superintendente conta ainda que lideranças do movimento negro, secretários estaduais, educadores, músicos, dramaturgos, cineastas frequentam historicamente o local. “Não é todo local que se consegue reunir tantos representantes”.

Ailton relata ainda que está dialogando com a Arquidiocese e as irmandades religiosas para falar sobre a situação de Alaíde. “O imóvel é deles. Estou agendando uma conversa com Dom Murilo Krieger para falar do assunto. Outra alternativa seria pensar em outro imóvel para ela usar. Não dá para pensar o Pelourinho sem Clarindo Silva, Alaíde do Feijão e outras figuras que já fazem parte do cenário”.

Vídeo - Em 2011, um documentário retratou a trajetória da empreendedora. Dirigido pelo publicitário baiano João Silva, “Alaíde do Feijão” de, aproximadamente, 30 minutos, foi gravado boa parte em preto e branco. Com a simplicidade, Alaíde contou a sua trajetória, desde os tempos em que vivia no bairro da Preguiça, até se envolver com o movimento dos blocos afro na Liberdade, chegando hoje onde está, no Pelourinho. O filme foi realizado pelo Instituto Maria Preta, com a produção da Fundo de Quintal e da agência Maria Comunicação.

“Quando eu tinha mais ou menos sete anos, uma ialorixá disse para minha mãe que eu ia sobreviver daqueles grãos”, relembra Alaíde no documentário. Hoje, ela luta para manter o seu restaurante aberto.

Fonte: Correio Nagô

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Eu simpatizo com a causa, meu amigo, têm alguns restaurantes em sp, o importante é preservar empregos.