quarta-feira, 11 de julho de 2012

Ailton Ferreira mostra sua experiência da SEMUR para ativistas paraibanos


Por Dalmo Oliveira

 
Durante três dias o secretário da Reparação de Salvador, Ailton Ferreira, realizou em João Pessoa uma série de reuniões com diversos segmentos do movimento social negro da capital paraibana. Ele veio à cidade a convite do jornalista Dalmo Oliveira, membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR) e do Fórum Paraibano  de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR).

Ferreira: humanismo e humildade
Na sexta-feira, 6, a partir das 16h, Ferreira participou de uma roda de diálogos com militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), no auditório do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Município (SINTEM), onde falou da experiência da Secretaria Municipal da Reparação (SEMUR). Entre as pessoas da plateia estavam o deputado Luciano Cartaxo, candidato à Prefeitura de João Pessoa, Rodrigo Soares, presidente estadual do PT, e os candidatos a vereador da legenda, Idevaldo Barbosa e José Neto.

De forma simples e didática Ailton mostrou aos presentes porque Salvador decidiu criar a SEMUR. Ele disse que depois que ocorreu a terceira conferência contra o racismo e xenofobia de Durban o Brasil assumiu compromisso de criar políticas públicas de reparação para as populações descendentes dos africanos escravizados.


Petistas pessoenses ouviram experiências da SEMUR
Em Salvador, a secretaria foi criada em 2003. Ailton fez questão de destacar que a secretaria foi criada pela luta dos movimentos sociais, e começou explicando sobre a diferenciação entre a cidadania dos que vieram para o Brasil para mandar e aqueles que foram trazidos para obedecer. “No Brasil havia uma ideia de que existe gente de primeira e gente de segunda categoria, como se fosse um açougue onde se vende carne de primeira e de segunda, mas nós somos gente, não somos carne e Deus fez todo mundo de primeira. Essa hierarquia, essa separação, essa inferioridade e superioridade entre as pessoas está na nossa matriz cognitiva”, diz o sociólogo.

O gestor soteropolitano lembrou que a escravização no Brasil terminou por conta das pressões econômicas internacionais e que a Lei Áurea só possuía dois artigos: 1) Está abolida a escravidão e 2) estão revogadas as disposições em contrário. “Não foi feito nenhum pacto social para ressarcir os negros escravizados. Nós não tivemos um acordo pós-escravatura. Quando os italianos foram chamados pelo governo Vargas para industrializar o Brasil, eles vieram com cotas, com incentivos, com emprego, com terreno, com casas. Mas para os ex-escravizados não ofereceram nada”, destaca Ferreira. 

Ele falou da questão das prioridades na saúde. “O país é bam-bam-bam em cirurgia plástica, mas não tem tratamento para a anemia falciforme. Nós hierarquizamos o atendimento. Então que tipo de priorização é essa?”, pergunta. “Não é normal negros serem mal tratados. Nós queremos passar o país a limpo. Zerando o jogo”, diz.

O secretário deu uma verdadeira aula de história do Brasil
Ailton Ferreira diz que é preciso que a secretaria tenha a capacidade institucional de se articular com as demais secretarias do governo municipal. “É importante que a secretaria não queira resolver tudo. Nem vai resolver. E que a população entenda isso. O prefeito tem que entender que, criando a secretaria de promoção da igualdade racial, estará atendendo as metas do milênio, e o BIRD está olhando para nós, e as agências internacionais estão observando. Ele precisa perceber que com a adoção dessa iniciativa ele estará colocando sua cidade estrategicamente competitiva num mundo globalizado, com a marca da equidade”, recomenda. 

Em 2009, o orçamento da SEMUR foi de R$ 1 milhão 250 mil. Já em 2010, passou para R$ 2 milhões e 600 mil. No ano seguinte o orçamento da SEMUR superou os R$ 4 milhões, com recursos do Tesouro Municipal. Além disso, a Prefeitura de Salvador recebe recursos federais para bolsas aos estudantes cotistas nas universidades.

Ativistas negros paraibanos interagiram com o secretário
Ele lembrou que a população negra é hoje cerca de 52% da população nacional. Na Paraíba essa porcentagem é ainda maior. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD,2007)demonstra que na Paraíba 58,9% dos seus habitantes são pardos; 37,5% brancos; 3,4% pretos e 0,2% amarelos ou indígenas.

“Essa secretaria é fundamental nesse momento. Queremos que ela tenha exatamente essa função de articuladora com as demais secretarias, para que todo o governo faça o combate ao racismo e compreenda a importância das políticas públicas para promoção da igualdade racial”, comentou o deputado Luciano Cartaxo, após a explanação do convidado.

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