terça-feira, 19 de agosto de 2014

Piadas macabras e outras abobrinhas

Artigo publicado nesta terça-feira (19) no Jornal A Tarde

Piadas macabras e outras abobrinhas 

Vira e mexe, encontramos na crônica policial expressões do tipo: "não era envolvido", "não usava drogas" e outras abobrinhas que já derivam para o cotidiano das comunidades como justificativas atenuantes para a mortandade de pessoas nos bairros populares das grandes cidades. Numa flagrante banalização da morte por violência e da coisificação da vida humana, que num macabro código passou a valer míseros reais ou pequenas gramas de droga. Assim, é aceitável a morte dos "envolvidos” com atividades nem tanto aceitas. Caminhamos para o cadafalso moral e levamos junto a ética e os princípios da dignidade humana. 

Vi nas redes sociais, piadas sem graça e de péssimo gosto, logo depois da tragédia que arrancou a vida do político Eduardo Campos. Chegamos a um ponto da desumanização dos políticos. Se um político explode no ar, não merece respeito e nem condolências por se tratar de um político, uma pessoa dedicada à vida pública, logo dizem: mais um ladrão, um a menos que se vai. Parece praga dita em fila de banco, que não leva a lugar algum, mas propicia alguns segundos de catarse. Faz-se uma piada agora, mas vende-se o voto na esquina mais próxima da vantagem sem pudor. Exigimos uma atuação política decente, mas trocamos o voto por favores e conveniências pessoais, elegendo os algozes para os quais voltaremos a nossa ira, eternizando a síndrome do perseguidor em busca do herói ou heroína. Deixando de lado o nosso protagonismo. 

Portanto, vamos parar de brincar com coisa séria. É hora de deixar de sermos usados por pessoas que manipulam a opinião popular e que dizem detestar os políticos e a política, esses sim, são os agentes inimigos da democracia e do povo brasileiro. Por fim, aos ingênuos e desavisados, vale lembrar que se temos representantes políticos que não merecem elogios, eles não chegaram sozinhos onde chegaram. Vamos emprestar à política a solenidade merecida pela sua nobreza. Fazer os ajustes e as mudanças necessárias, louvando a quem merece e deixando o ruim de lado, como nos ensina o sábio compositor baiano.

Ailton Ferreira, sociólogo, educador e superintendente de Direitos Humanos da SJCDH do Estado da Bahia.

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