Na manhã desta quinta-feira, 1 de Maio, visitamos o Bairro da Paz, antiga Ocupação das Malvinas, nascida com a democracia no início dos anos 80. Aqui ouvimos o empreendedor cultural Sidney Argolo, que realiza trabalho com jovens da comunidade, são oitenta adolescentes que me cercam de emoção num quintal onde galinhas e cachorros nos observam. Falamos de cidadania e direitos humanos. Aqui, entre a Av. Paralela e a orla atlântica da Cidade da Bahia, as pessoas nos ensinam a resistir com a dança do corpo liberto, o sopro da música e a energia da esperança. Lembro agora de 81/82, quando apoiamos essa ocupação, cadastrando as famílias e numerando as casas de madeira e pouco barro. Éramos a FABS, a Federação de Bairros de Salvador, a OAB - Euberlândio -Lando , a CPT, Waldemar Oliveira, Fernando Schmitd, Agenor Oliveira, ajudando as lideranças locais, Fubuia, Waldemar Bibiano, Jamaica, Célia, Maria Euzebia, Balbina, Babalorixá Sibain, dentre outras, a desbravarem o mato, numa versão revolucionária das Entradas e Bandeiras do seculo XX. As reuniões aconteciam na Praça da Paz, aos domingos. Lembro do padre e das freiras incansáveis, lembro do esperado parecer da Justiça , do enfrentamento com a policia, as correrias para o Fórum Rui Barbosa, a demarcação das terras e do código de ética criado para não haver especulação financeira na área. Lembro das reuniões com o então prefeito Manoel Castro, se não me falha a memória, mas sei que a Prefeitura estava com o PDS/PFL. Lembro dos "miguelitos" que o povo colocava na entrada da rua para segurar as viaturas da polícia. Lembro dos moradores usando facão e foice na cintura. Isso tudo foi outro dia, eu era um jovem garoto que também amava os Beatles e a revolução, que cantava Geraldo Vandré e lia as cartas de Frei Beto, levado pela acumulação gramsciniana da paciência historica.
Ailton Ferreira, superintendente de Direitos Humanos da Sec. de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
Ailton Ferreira, superintendente de Direitos Humanos da Sec. de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
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