terça-feira, 28 de janeiro de 2014

“Rolezinhos”, um texto para ser lido

Na minha experiência enquanto militante dos movimentos sociais e em especial, do movimento negro, aprendi o valor da diversidade para a democracia e para o mundo dos negócios empresariais. Em minhas palestras sobre diversidade e competitividade, tenho dito e repetido que a diversidade faz o diferencial competitivo nas organizações e empresas, sejam elas públicas ou privadas. Sustento a minha tese na observação que o mundo é diverso e feito de vários textos humanos, textos que merecem ser lidos, sem subordinação, pois compõem o cenário humano. Apresento-lhes este texto óbvio quando a sociedade busca respostas e soluções para o fenômeno do “rolezinho” nas grandes cidades brasileiras.

Por que os shoppings têm a preferência dos protestos juvenis? Vou arriscar uma afirmação: os shoppings precisam ter a cara do Brasil, precisam incorporar os textos variados da sociedade - ela é preta, branca e amarela, ela é bossa, samba, pop, carnaval e brega.

Quando os nossos shoppings refletirem a nossa diversidade, estarão dialogando com os seus consumidores, que são de todas as cores e nomes. Deixarão de ser espaços estranhos alvos dos protestos, pois terão a interlocução com o Brasil real e profundo.

As estatísticas demostram que quem mais consome nos grandes shoppings são ospúblicos “C” e “D”; pesquisas do Instituto Ethos afirmam que menos de 20% das grandes empresas brasileiras tem pessoas negras em seus quadros de dirigentes, esse percentual é reduzido quando se trata de pessoas com deficiência.

Defendo a aplicação das leis nos casos de abusos e danos causados ao bem privado, defendo a orientação familiar aos jovens que devem respeitar as leis, mas entendo que é necessário o óbvio, e o óbvio é aproximar os nossos shoppings do mundo real, do seu público consumidor, que não mais os verão como coisas estranhas na medida em que tenham os seus textos lidos e apreciados, tais como os tênis, celulares e tablets consumidos pela nossa juventude “C” e “D”. Que tal abrir vagas de trabalho para esses jovens?

 

Ailton Ferreira, sociólogo, educador, ex-secretário da Reparação e atual superintendente de Direitos Humanos as Sec. Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia.


 (artigo publicado no jornal A Tarde de 27/01/2014)


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