terça-feira, 5 de novembro de 2013

"VOTO OPOSIÇÃO PORQUE É O PARTIDO DOS POBRES. QUEM VOTA NA ARENA É O POVO RICO".

Esta fotografia é do meu pai, Albertino Francisco Ferreira, nascido em São Félix, seguiu para Cachoeira, onde ficou até os 12 anos. Migrou para Salvador, onde veio trabalhar no comércio do bairro da Liberdade. Sem casa para morar, dormia sempre no local de trabalho. Em uma mala, guardava os seus pertences. Trabalhou nos balcões de peixaria, sorveteria e mercadinho. Casou-se com a minha mãe D. Zulmira e foi à lua de mel em São Paulo. Lá vendeu cachorro-quente no campo do Corinthians e voltou comigo na bagagem. Orgulhoso e cheio de brios, embarcou eu e minha mãe, num avião da Varig. Ele chegou oito dias depois, de trem. A carteira, os documentos e o dinheiro sumiram no trem. Restou o bolso cortado por uma navalha. Em Salvador, instalou-se na Rua Francelino de Andrade, entre a Rua do Céu e o Pero Vaz. Uma casa de nº 10, pertencente ao espanhol, dono da Transwal, na Lapinha.

Na Liberdade, montou barraca de temperos, conduziu a cantina Ipanema, na esquina do Estica com a Lima e Silva, onde fez sucesso na mídia, até que um incêndio levou tudo. Depois montou barraca em Água de Meninos, Feira de Sào Joaquim. Um novo incêndio levou tudo.

Foi ser cozinheiro na Base Naval de Salvador, experiência adquirida na cozinhado do Hotel da Bahia, no Campo Grande. Em paralelo, sempre mantinha um pequeno negócio.




 Manteve na nossa casa um Centro "Luz e Caridade", onde, às segundas-feiras, atendia o povo em caridades, orações, banhos de folhas e distribuição de pipoca (as flores do velho). Eu, ainda pequeno, anotava os recados e as receitas dos Santos para as pessoas que lá chegavam, em busca de ajuda espiritual. Meu pai nunca ganhou dinheiro com essa atividade.

No ano de 74, saiu da Base Naval, já em Aratu, e montou um bar em Paripe (O Frio Lanches), depois no Curuzu (A Cabana Cariri) e concluiu na Fazenda Grande do Retiro com a lanchonete Eliene (homenagem à minha irmã, Eliene Bárbara).

Albertino teve ainda, os filhos Adilton Roque, Ademilton e Roque Lázaro. O meu pai sempre votava no antigo MDB - Movimento Democrático Brasileiro, o partido contra a Ditadura no Brasil. Certa vez, lhe perguntei por que votava naquele partido de oposição. Ouvi a melhor resposta de um homem que tinha estudado até 2 º ano primário em Cachoeira: "VOTO OPOSIÇÃO PORQUE É O PARTIDO DOS POBRES. QUEM VOTA NA ARENA É O POVO RICO".

Esse homem de fala mansa, brincalhão, também virava a casaca em um minuto, mas era capaz de juntar e mobilizar pessoas, fazer muitos amigos, inclusive, muitas crianças. As suas festas eram aglomerações públicas e andar com ele pelas ruas requeria paciência, pois a cada esquina tinha que parar e conversar com os amigos aos quais eu era orientado a tomar-lhes a benção.  Nunca quis juntar dinheiro e distribuía o que ganhava.

Obrigado, meu pai!

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