terça-feira, 22 de março de 2011

Uma foto jamais vista

Após, aproximadamente, dezessete meses do Massacre de Shaperville na África do Sul, no dia 21 de março de 1960, nasce o menino Barack Obama, no início de agosto de 1961. De lá para cá, o menino se fez homem e presidente do poderoso Estados Unidos da América. Nesses cinquenta anos o mundo experimentou mudanças profundas na sua geopolítica e o Brasil quebrou paradigmas nas suas relações de poder. Implodimos o Colégio Eleitoral e vencemos a ditadura militar, construímos uma Constituição mais cidadã e avançamos na elasticidade democrática elegendo um presidente inspirado pela ótica dos oprimidos. Mas ainda assim, registramos dados de racismo e discriminação frutos da cultura racista que hierarquiza seres humanos. Uma cultura que mantém valores, mentes e crenças presas nas correntes do passado.

A luta para a construção de uma sociedade menos desigual e que promova a igualdade racial é pauta das agendas dos governos municipal, estadual e federal, mas impulsionada pelo Movimento Social Negro Brasileiro que conseguiu agendar a sociedade com o tema que antes mereceu rejeição fora dos territórios da militância negra. Ainda no governo Lula, em 20 de julho do ano passado, o Brasil conheceu o Estatuto Nacional da Igualdade Racial. Agora, oito meses depois, no mesmo Salão Nobre do Itamaraty, em Brasília, onde o primeiro presidente operário sancionou o primeiro Estatuto da inclusão racial, a primeira mulher a presidir o Brasil, recepciona o primeiro negro a presidir os Estados Unidos. Uma foto jamais vista!

A visita da família Obama ao Brasil é o melhor retrato do futuro que a comunidade brasileira pode projetar para os milhares de Obamas e as milhares Michelles espalhadas nas periferias das nossas cidades. Basta que oportunizemos e alimentemos os sonhos da meninada negra brasileira. Será uma boa homenagem à memória dos revoltosos massacrados pelo regime do apartheid naquele 21 de março. O dia em que a ONU estabeleceu como o Dia de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Ailton Ferreira, sociólogo, secretário Municipal da Reparação de Salvador e Elói Ferreira, presidente da Fundação Cultural Palmares

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