segunda-feira, 7 de junho de 2010

Salvador - África - Salvador‏

Salvador sediou na segunda quinzena de maio uma série de eventos que marcou a força da nossa africanidade. No salão nobre da Reitoria da UFBA foi instalado solenemente o IV Encontro Semana da África, com o tema África: independências e futuros possíveis, o evento promovido por doutorandos, mestrandos e pesquisadores africanos e afrobrasileiros, com o objetivo de fortalecer o intercâmbio acadêmico e debater o futuro do desenvolvimento tecnológico e das contribuições científicas africanas no processo civilizatório brasileiro teve o apoio da Secretaria Municipal da Reparação. O Encontro foi encerrado na Faculdade de Economia da UFBA, com um debate sobre as águas, depois de uma série de seminários e oficinas realizadas em escolas de Salvador e centros acadêmicos, buscando o fortalecimento da aplicação da Lei 10.639 e 11.645 nas escolas.

Já entre os dias 24 e 26 de maio último, pesquisadores, militantes e gestores de vários países participaram da Pré-Conferência das Américas à Conferência Mundial de Juventude 2010, que reuniu representantes da Prefeitura (Assessoria de Relações Internacionais e Secretaria da Reparação), Governo do Estado, Presidência da República, ONU, representantes do México (onde será a Conferência Mundial da Juventude), e diversos outros países das Américas.

Quase que concomitantemente aconteceu o II Encontro Afro - Latino e Caribenho reunindo ministros da cultura e outras autoridades da América Latina e do Caribe, instalado no Teatro Castro Alves e que teve prosseguimento com os encontros de pensadores realizados no Museu da Casa de Misericórdia, na Praça da Sé e depois no Othon Palace Hotel Pestana, A ministra da Colômbia, Paula Zapata, proferiu palestra sobre políticas públicas para as populações afro-latinas e do Caribe, seguindo a abertura pelo ministro Juca Ferreira e o presidente da Fundação Palmares, Edvaldo Zulu Araújo. Seguiram as mesas: A Força da Diáspora Africana, As Expressões Culturais na Formação de Identidades, Produção Midiática na América Latina, Comunidades Tradicionais e Mapeamento das Manifestações Artísticas. O evento foi encerrado com o concerto afro-latino de Carlinhos Brown na área verde do Othon.

A agenda da Semana da África foi repleta de bons eventos. Ainda na noite de 28 de maio, participamos do seminário sobre Direitos Humanos e Racismo, realizado pelo Instituto Steve Biko, na séde do Ministério Público Baiano, cuja tônica foi a atuação dos organismos de defesa dos direitos humanos e como o fator étnico influencia as análises desses órgãos que quase silenciam (à exceção do CEDECA) diante do dado de realidade da violência urbana que vitimiza jovens negros, caracterizando-se como um genocídio negro mas tratado com certa banalidade pelos meios culturais circulantes e documentos estatísticos. Na mesa, tive a oportunidade de lembrar da importância das contribuições dos profissionais que formam o Instituto Steve Biko, que diferentemente dos jovens que vivem trancados nos clubes-residenciais, sem contato com o País real. Estes são jovens em pânico numa sociedade do medo. Posto que estão distantes das soluções e arranjos populares de uma sociedade em crise. O Instituto Steve Biko é referência na formação de cidadania, preparando nossos jovens para além do simples vestibular e formulando idéias para um Brasil melhor.

Ainda neste dia 28 foi lançado pela SEPROMI o Carnaval Feminino com as presenças das lideranças femininas mais expressivas da Bahia, no Teatro do ICBA. Lembrei-me que naquele espaço, os saudosos Lino de Almeida (que partiu em dias de copa de 2006) e Manoel Almeida Cruz, criaram o Núcleo Cultural Afrobrasileiro, naqueles idos, Manoel Almeida e Lino não imaginavam que anos depois, a dezena de militantes que juntava, seriam centenas em toda a cidade, ocupando os teatros, Ministérios, Hotéis, Salões, reitorias, para tratar do racismo, dos seus reflexos e das formas de curar esse País ainda acometido pela doença do racismo, dos preconceitos.

Viva a Semana da África, a irreverência de José Lino Alves de Almeida, a paixão libertária do prof. Manoel de Almeida Cruz, justamente homenageado pela Prefeitura de Salvador ao batizar com o seu nome uma escola municipal em Cajazeiras. E como nada acontece do nada, entre o "Odum Adotá" celebrado na Câmara Municipal e o encerramento do encontro sobre políticas de ações afirmativas para a América Latina, surge o inspirado e provocador texto do professor Jaime Sodré, sugerindo por merecimento, um monumento na Escola Politécnica da UFBA ao outro professor: o mestre Milton Santos. É a certeza de que a agenda afrobrasileira ocupa a centralidade merecida. Como temos juízo, cumpre-nos informar ao irmão-professor que em obediência mais que fraterna, já aguardamos a confirmação de reunião com o magnífico reitor Naomar Almeida, para que possamos, juntos, seguir os caminhos abertos. Reitor, aliás, que acaba de presidir a cerimônia na qual o vice-prefeito Edvaldo Brito, outro mestre produzido neste Brasil mais profundo, recebeu o título de professor emérito. Olha nós aqui outra vez!

Ailton Ferreira, sociólogo e secretário municipal da Reparação.

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